Corri rua abaixo com o papel na mão. O que quer que tenha
levado Kristen Smain podia estar ali, me observando nesse exato momento, como
um animal pronto para dar o bote. Um arrepio percorreu minha nuca, e olhei
instintivamente para os lados, enquanto tropeçava rua abaixo.
Kris estava em perigo por minha culpa. A culpa era minha, todos estavam em perigo por minha
culpa. Eu poderia ir embora, me render aos Arcanjos ou simplesmente voltar para
a casa e esperar...esperar pelo quê? Minha vida nunca mais seria a mesma depois
desses dois dias. Eu havia enfim descoberto
o que eu era de verdade, e por mais que eu não aceitasse isso com muito
carinho, era o que eu queria, a verdade. Meu pai...Um Arcanjo, o maior
deles...Miguel...Ah, meu pai! Pelo
amor de Deus, como minha vida foi chegar a esse ponto? A ponto de eu ir para
França com um três anjos quase desconhecidos mas que estavam se tornando meus
amigos, para uma missão suicida? Como eu, Catherine Lohan, poderia ter achado
que salvaria um Arcanjo do inferno e impediria um anjo caído a não se erguer e
fazer do mundo, apocalíptico?
Meus pensamentos fluíam a ponto de manchas escuras cobrirem
minha visão. Rendaria-me tão fácil assim ou lutaria? Lutar. Eu iria lutar. Independente com quem ou com o quê.
Tropecei e cai de joelhos, um vento forte soprava meus
cabelos curtos ainda mais para o rosto. Levantei-me, tirei os óculos e os
coloquei na bolsa, enquanto corria. Estava quase chegando. Quase. Alguns quilômetros
e chegaria. O vento cessou de repente e parei. Sem saber o por que, eu parei.
Olhei sobre o ombro e um homem de observava, a mais ou menos 4 metros da onde
eu estava. Tentei vê-lo melhor, mas uma névoa negra o cobria, um arrepio subiu
pela minha barriga e o meu subconsciente me avisou que aquele homem, seja quem
fosse, não estava ali para me ajudar. Mas se fosse quem seqüestrou Kristen? Pensei.
Não poderia deixá-lo ir ileso.
Ele se aproximava. Três metros, dois. O homem tinha mais ou
menos 30 anos, era negro e tinha os cabelos encaracolados e estava todo de
preto. Sua expressão era de calma, mas ao mesmo tempo impaciente. Ele se movia
em uma velocidade surpreendentemente rápida e sobre-humana.
Não. Ele não estava aqui para ajudar.
Corri, dessa vez mais rápida. Corri e não olhei para trás para
saber se ele me seguia, já podia ver a garagem no fim da rua. Mas e se eu o
levasse para Eduardo e Dan? Daria tempo de dar a partida no ônibus?
– Você não pode fugir de mim. – Disse uma voz áspera e
calma, muito, muito perto de mim. Corri ainda mais rápido, murmurando “vai se
foder”, e acho que ele ouviu, pois começou a rir, uma risada irônica e maléfica.
Estava a menos de um metro de mim. Corri mais rápido, a garagem estava muito
perto e já podia ver Eduardo de costas para a rua, mexendo em alguma coisa no
portão da garagem. Dan não estava ali.
– Eduardo! EDUARDO, OLHA PRA MIM. EDUARDO! – ele se virou e
o alivio tomou conta de mim, ele franziu o cenho e me vi correndo ainda mais rápido
que o normal.
Em poucos segundos estava ao lado dele arfando, olhei para trás
e não havia homem nenhum. Ninguém me seguia. A rua estava vazia.
– Tinha um homem me seguindo – coloquei minhas mãos sobre a
perna, ainda arfando. Meu coração disparava descontroladamente. – Kristen
sumiu, Eduardo! Meu Deus, tinha alguém me seguindo...e sumiu...sumiu...
– Cathy – Eduardo me abraçou, tentando me acalmar. Não sabia
quando tinha começado a chorar, mas lágrimas escorriam sobre meu rosto, não fiz
nada para impedi-las. O medo me invadia. – Cathy...
A voz de Eduardo sussurrando meu nome no meu ouvido, o seu
cheiro na camisa pólo em que eu encharcava de lágrimas, seus braços me cercando
e me protegendo...aquilo era tentador.
– O que aconteceu? – ouvi a voz de Dan de algum lugar.
– Kristen sumiu, tinha alguém... – mas Eduardo não conseguiu
terminar, Dan já grunhia e xingava em latim.
– KRISTEN SUMIU? O QUÊ? COMO PODE DEIXÁ-LA SUMIR, CATHY?
Comecei a chorar ainda mais forte, tremendo nos braços de
Eduardo.
– Por favor Dan, não a culpe. Ela ainda é nova... e deixe-a
explicar.
Eduardo levantou meu rosto para que pudesse olhar nos meus
olhos. Perdi-me naqueles olhos negros...parecia um abismo sem fim, tanto afeto,
preocupação e carinho. Eu não merecia aquilo. Eu havia deixado Kristen
desaparecer. Minha culpa. Porque eu
ainda era “nova demais”.
Larguei-me de seu abraço e soluçando, comecei a falar, para
Dan.
– A gente estava no começo dessa rua e...e andávamos... –
respirei fundo, tentando formular palavras mais complexas. – Mas do nada Kris
sumiu. Ela tagarelava sem parar e de repente me olhou como se disse “o que você
fez?” e sumiu. Sumiu! – Comecei a chorar de novo e me sentei na calçada, e
recomecei, entre soluços. – E vim correndo pra cá, pedir ajuda...mas ai um
homem começou a me seguir...ele estava todo de preto e coberto por uma névoa
negra...Aimeudeus! e ele disse que eu
não podia fugir dele...ele era rápido...mas quando cheguei aqui ele sumiu!
Sumiu! Também! Mas...quando Kris sumiu, um papel apareceu onde ela estava.
Abri as mãos e entreguei a Dan o papel amassado, ele soltou
um palavrão e se virou para Eduardo, com raiva.
– Temos que ir até lá! É Kristen!
A calma de Eduardo estava me estressando, como podia ficar
calmo quando Kristen estava desaparecida?
– Vamos mas...isso me lembra algo, Dan.
– Hã? – perguntei.
– A visão. Quando você e Kristen estavam fora, Dan teve uma
visão...uma profecia, pra falar a verdade.
Daniel pareceu ter batido em uma parede de vidro, ele começou
a andar em círculos, pensando.
– É claro! A primeira frase da profecia...
– Do que estão falando? – Levantei-me da calçada, cambaleando.
Uma profecia? Tipo do futuro?
– Na profecia dizia – e Eduardo começou a citar, nervoso:
“Filha do
Pecado, a Morte a ti espera;
Terá aquilo que
necessita, mas do que adiantará?
Estará cercada
pelas trevas.
Do Anjo, as
portas da vida se abrirão.
Mas a morte
reina;
Destrói;
Desperta.
O amor lhe
sufocará.
Oh, deusa! Coração
destruído,
Amor proibido.”
Um silêncio sombrio nos cercou, podia se ouvir meu coração
batendo, ainda descontrolado.
– Então é isso? – perguntei por fim, quebrando o silencio. –
Eu sou a deusa do coração destruído? QUE NÃO VAI CONSEGUIR PORRA NENHUMA? É
ISSO?
Meus gritos ecoaram pela rua, lágrimas quentes desciam cada
vez mais rápidas pelo meu rosto. Eu era um fracasso total. Uma idiota que
acabara de perder uma amiga e que tinha o futuro marcado para a destruição.
– Não pense assim, Cathy. – Eduardo se virou pra mim, sua máscara
de calma caindo enfim, mas mostrando algo insuportável. Dor. A dor era tudo que
se via em seus olhos, em seu rosto...na linha fina de sua boca. Dor. Era como
se ele estivesse cercado por ela. – Não pense isso. Por favor.
Quis correr para abraçá-lo, não suportava ver aquilo: a dor
em todo o seu rosto.
– Temos que salvar Kris – disse Dan, ele parecia estar longe
dali. Em outra dimensão.
– Salvá-la do que? – olhei para ele, enxugando os olhos.
Algumas lágrimas pretas ainda escorriam...delineador.
– A Morte a ti espera.
Talvez....talvez ela seja uma isca. De qualquer jeito, temos que ir até lá.
– Ele pegou a minha mão e a de Eduardo e antes que pudéssemos protestar, viajamos
nas sombras, na escuridão infinita.
Aparecemos em uma estrada de terra...algumas pessoas faziam
caminhada por ali, e ninguém pareceu nos notar. A nossa frente à Torre Eiffel
emergia assustadoramente grande. Nunca tinha ido a França e só tinha visto a
Torre Eiffel por fotos, nunca imaginei que podia ser tão grande e ao mesmo
tempo tão linda.
Árvores nos cercavam por todos os lados. A nossa esquerda
havia um lago, azul como a cor do céu e cercado pelas sombras das árvores. O
caminho a nossa frente estava vazio, o que era estranho.
Então quinze homens de branco apareceram a nossa frente, com
armaduras gregas e antigas. Nosso instinto foi igual, viramos para correr para
o outro lado, mas uns trinta homens igualmente de brancos e armados pairavam lá.
Pensei em me jogar no lago, mas talvez estivesse frio demais. O fato principal
era: estávamos cercados e não tínhamos condições para lutar.
Estão vigiadas todas
as estradas...todos os meios de viagem...não poderemos viajar nas sombras,
a voz de Dan ecoou na minha cabeça. Agora sabíamos o que aconteceria se um anjo
viajasse nas sombras com Cathy Lohan!
– Fujam! – gritou Dan. Mas no mesmo momento em que ele disse
isso, todos levantaram suas espadas e deram um grito de guerra.
Eles vão nos atrasar, pensei. Vai ser tarde demais se
continuarem aqui.
E então foi tudo muito rápido. Em um momento todos nós estávamos
gritando e no outro os Homens de Branco haviam virado pó. No seu lugar, roupas
brancas, espadas e armaduras caíram no chão.
– Oh! – exclamou Eduardo. E ele e Dan se viraram pra mim,
espantados.
– Você fez isso? – espantou-se Dan.
– Não. Não! Eu...eu não...não podia...eu só queria que eles não
estivessem aqui...porque...porque...aimeudeus,
não me diga que eu os destruí!
– Oh! Oh! Oh! – repetiu Dan, seus olhos perplexos. – Você
destruiu uns...40 anjos com um pensamento! Sai de perto de mim, Cathy! – brincou,
e começou a rir, satisfeito, mas pude ver a tristeza no riso.
– Está...triste? – perguntei.
– Não é...são meus irmãos, Cathy. Eles só estavam fazendo
seu serviço e – ele já não ria mais, olhou para a Torre Eiffel e suspirou – Mas
é por Kristen...eles iam nos matar de qualquer maneira. Eram as nossas vidas ou
as deles.
– Eu... – mas não consegui dizer mais nada. Naquele momento
uma escuridão me envolveu e parecia que tinha milhões de toneladas em cima de
mim, me espremendo e me tirando o ar.
E então parou. Eu estava de volta ao mesmo lugar, mas em
cima de Eduardo. Estávamos deitados no chão, ou ele no chão e eu em cima dele? Não
importa. Nossos rostos estavam tão pertos um do outro que podia sentir seu hálito
de menta tocando meu rosto, seus olhos estavam arregalados e eu sentia que os
meus também. E foi ai que fui jogada na grama com tanta força que poderia ter
me feito em pedacinhos, mas não fez, nem doeu. Mas foi desconfortável. Eduardo
estava em pé onde segundos antes estava deitado, ele respirava com dificuldade
e encarava-me como se eu o tivesse esmurrado em publico. E me dei conta de que ele havia me jogado na grama. Levantei
sobrenaturalmente rápido e comecei a gritar com ele.
– O que eu fiz? VOCÊ
PODERIA TER ME MACHUCADO! SEU LOUCO, MALUCO, PSCICOPÁTA!
– Eu...ahh Cathy, me perdoe. Eu perdi a cabeça e... – ele
tentou se aproximar de mim mas me esquivei, e foi ai que notei que tinha
centenas de soldados armados a nossa volta. Não exatamente a nossa volta, mas
cercando toda a Torre Eiffel. E havia menos árvores e muita gente ao longe, gente
demais...soldados vestidos esquisitamente demais...Olhei para Eduardo e olhei
para todos os soldados, e olhei para Eduardo. Que merda era aquela?
– O que...
Mas Eduardo já agarrará meu braço e já corríamos em torno da
Torre Eiffel, tão rápido que me senti o flash
indo salvar o mundo. Duas batidas do meu coração haviam se passado e já estávamos
na Quain Branly. Onde centenas de soldados armados marchavam.
– Isso parece um cenário da... – mas não podia acreditar no
que via, não podia. Era impossível. E
onde estava Dan? Senti-me culpada por tê-lo deixado lá no meio dos soldados, e
se fizessem alguma coisa com ele? Mas ninguém parecia nos notar. Como se
fossemos invisíveis...
– Segunda Guerra Mundial? – Eduardo completou. Ele segurava
minha mão e olhava ao redor. Realmente, não parecia que estávamos em 2011.
Parecia mais...
– Não!
– Sim.
– O que eu fiz...
– Acho que dessa vez não foi você.
– Mas Eduardo...se não me falha a memória esses soldados são
nazistas e estamos em...
– 1940.
– Exatamente – uma voz cansada soou atrás de nós, nos
viramos na mesma hora e deparamos com um velhinho: muito pálido e de cabelos
muito brancos. Ele andava com dificuldade mas com determinação. Usava um terno
preto e um chapéu marrom, óculos quadrados e finos. Sua pele era tão enrugada
que parecia que ia se rasgar, ali mesmo. – Você deve ser Catherine Lohan, filha
de Miguel. E você...quem é você? –
ele olhava intrigado para Eduardo, que parecia desconfortável a presença do
velho. Mas Eduardo não se apresentou, em vez disso fez a pergunta que também me
matava de curiosidade.
– Quem é você?
– Eu? Eu sou a Morte.
– Mentira. – Acusei, sem pensar.
– E por que eu mentiria, Catherine? Você foi avisada, não
foi? A profecia...
– Ahhh! – exclamou Eduardo. – A Morte a ti espera.
– Isso. – E a Morte se virou para os soldados que marchavam
em igualdade. A dor era evidente no rosto da Morte. Aquilo me assustou mais do
que eu pensei. – Precisamos conversar – ele disse. – Sobre sua vida Cathy.
Cathy Lohan e os Espíritos da Morte.
Por: Carol C.
Fico cada vez mais fascinada por essa história, aaah *---*
ResponderExcluirCarol, arrasando como sempre!!
ResponderExcluirAmei amei e amei.
Quero só ver o proximo eim!!
Posta rapido por favor *--*
Bjs
Sério man, parabéns.
ResponderExcluirEla é uma nefilim ou um anjo?
ResponderExcluirNefilim é um raça criada de um anjo caído e um humano, e Cathy não é filha de um anjo caído...por isso as pessoas não sabem que nome (raça) dar a ela...nem eu '.' rs =D ela não é um anjo.
ExcluirUau! Cada capitulo me fascino mais e mais por essa historia.
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