Não agüentei e
cai no riso, e apesar de todos estarem com olhares e posturas sérias, como se
estivessem anunciando o fim do mundo, eu ri. Tanto, que cheguei a entalar.
– Um copo d’água.
– pedi, aos entalos.
Um copo surgiu a
minha frente na mesa, peguei-o e bebi a água. Respirei fundo e encostei-me
na cadeira, como se estivesse corrido ao lado de Usain Bolt.
– Já parou? –
perguntou Mateus, muito sério. Fiz que sim e ele prosseguiu. – Temos uma longa
história pra te contar, do seu interesse. E se você rir toda a vez que
dissermos algo “improvável” – ele fez aspas no ar –, vou ser obrigado a passar
uma fita na sua boca.
Eu estava de saco
cheio daquele assunto. E ainda tinha de agüentar um cara folgado dizendo que ia
passar uma fita na minha boca? Rá. E fora o fato de que eu ia acabar ficando
atrasada para a aula de Biologia...
Chequei meu
relógio, devia ter parado, pois ainda marcava 06:00 horas. Olhei para o relógio
que ficava na parede da cozinha, o meu celular, ambos marcavam 06:00 horas.
Olhei para fora da janela, amanhecia.
Levantei-me da
cadeira e dei a volta na mesa quadrada, passando por Mateus segui até a janela
do apartamento. Olhei para baixo e o que vi não foi nada animador. Do sexto
andar dava para ver tudo que acontecia lá embaixo, desde a rua da frente, ao
jardim do prédio. O bonitão que passava correndo todos os dias dando “bom dia”,
a senhora do apartamento 25 que ia a
padaria sempre ás 06:00 horas...o porteiro que tentava acalmar um garotinho
chorão que nunca queria ir pra escola, com uma mãe que sempre usava óculos
escuros (É, não importava se estava sol ou não!)... Os carros que passavam na
rua da frente...o cachorro mijão...o jardineiro...tudo. Estava tudo parado.
Como se alguém tivesse dado “play”. Não ouvia a cantoria dos pássaros, nem o
barulho de pneus descontrolados. Ninguém gritava. Ninguém se movia.
Vire-me e encarei
os três presentes. Eu e eles parecíamos ser os únicos seres vivos que ainda
respiravam, e aquilo foi assustador.
No silencio que
se seguiu, soube, apenas por encarar aqueles rostos belos, sabia que estavam
dizendo a verdade. Por mais que cada palavra soasse tão improvável. O que
diziam fazia sentido por tudo que já aconteceu de estranho comigo. Cada coincidência...cada
persuasão...cada raiva que tive e fiz explodir coisas...fiz pessoas fazerem
“favores” pra mim apenas com um olhar... tudo. Na época aquilo não parecia ter
explicações, e agora elas vieram como tapas na minha cara.
Alice deu um
sorriso culpado, como uma criança que foi flagrada brincando com as roupas da
mãe. Ainda sorrindo, falou:
– Temos todo o
tempo do mundo, Cathy. Sente-se.
Dessa vez eu não
fui. Encarei aqueles olhos azuis como se pudesse extrair toda a verdade deles,
a raiva me dominava. Por que não paravam de enrolar e não diziam tudo em uma
frase só? “você é uma aberração” serviria.
– Por que estão
todos assim...meio, congelados? – me surpreendi perguntando.
– Tudo tem sua
hora, querida – ela hesitou e prosseguiu: – Sente-se. Tenho certeza que quer
saber quem é seu pai, não?
– Ah! Vou ficar
por aqui mesmo. – encostei-me na soleira da janela, cruzei os braços e encarei
todos. – Vamos! Contem-me!
A verdade é que
eu estava com medo. Com medo da verdade.
– Bem – começou
Mateus, de costas para mim, ele brincava com as flores do jarro, em cima da
mesa, distraído. – Seu pai sempre foi um bom...Anjo. E Cathy, você tem toda a
razão em dizer que é pecado o que vamos lhe contar. E não discordamos, pelo
menos eu, não. Mas ouça, por favor. – ele fez uma pausa, escolhendo as palavras
certas. – Seu pai era apaixonado por sua mãe, Emma, e quando digo “apaixonado”
não é como os homens aqui da Terra amam. Seu pai seria capaz de dar sua
existência por Emma.
“Na época, ele tinha
um romance – por não ter uma palavra melhor: – secreto com ela. Não, sua mãe
não sabia quem ele era de verdade.”
Mamãe sempre
dizia que ele era misterioso, pensei. E ela morreu sem saber a verdade.
– Como ele
escondeu isso dos outros...? – não consegui pronunciar a palavra “anjo”, não me
pergunte o por quê.
– Seu pai é
poderoso. É capaz de deixar qualquer Anjo ajoelhado a seus pés.
Lembrei do
sorriso de mamãe, em como ela era corajosa, honesta e encantadora, ela sabia
conquistar, tinha charme e inteligência...não foi difícil imaginar um “anjo
poderoso” apaixonado por ela. Qualquer um se apaixonaria.
– E então – Alice
prosseguiu com a história. –, seu pai resolveu dar uma escapadinha. Sabe? Nada
demais...
Eduardo sorriu,
meio rindo.
– Eai ele
descobriu que camisinha não funciona com anjos.
Alice fez uma
careta pra ele, e me senti desconfortável a intimidade dos dois.
– E você – Mateus
se virou para mim, sério. – Nasceu exatamente no dia 11 de Novembro, de um imperdoável
e atormentado 1995.
Franzi o cenho.
– O que a data
que eu nasci tem haver?
Foi Eduardo quem
respondeu:
– Os humanos se
referem ao numero 13 um numero de azar. Mas na verdade, é o numero 11.
– O quê? –
zombei. – Só porque eu nasci neste dia?
– Não. Não é isso
– com um suspirou explicou. – Onze: o numero 1 dobrado, representaria uma
cadeia de DNA. Representaria o equilíbrio também. Numero primo. É o primeiro
numero que não dá pra contar nos dedos. O 11° Arcano Maior é a Justiça. E fora
às tragédias...
– 11 de Setembro.
Torres gêmeas... – comentou Alice.
– 11 de Janeiro.
Terremoto no Haiti... – Mateus falou, com um olhar vazio.
– E várias
outras. – Eduardo hesitou por um momento, avaliando-me. – Deus é o numero 10, e
como Lúcifer sempre quis estar acima dele...
– O numero de
sorte dele é 11? – adivinhei. – Mas...isso são apenas coincidências...rá...vão
me dizer que o mundo vai acabar hoje só porque é dia 11/11/11? Fala sério!
Eduardo começou a
retrucar, mas Alice falou mais alto, com sua voz fina:
– Em todo o caso,
você não nasceu no melhor dia. Mas isso é só uma data ruim...
– Que nasceu uma
coisa ruim – deixei escapar.
Ela deu um
sorrisinho malicioso.
– A questão mais
importante Cathy, é que achamos que você seja a criatura, perdoe-me pelo
argumento, não definimos um nome certo para você ainda, mais poderosa que
existi.
Assoviei. Com
certeza isso não era bom.
– Mas – continuou
Mateus. –, você pode não ser a única.
– Hã? Meu pai andou saindo com mulheres
demais? – zombei. Mas olhei para os lados, como se algum animal fosse surgir do
nada e me atacar...animal?
– Hummm – fez
Mateus.
– Seu pai, Cathy
– Alice mexia nos anéis da mão (Que joalheria!), ninguém me encarava mais.
Ótimo. Ai vem bomba. – Ele é o nosso querido Arcanjo Miguel.
– Ta de
brincadeira! – exclamei. – Mas que eu
saiba ele é um Anjo muito importante...ele teria sido expulso do céu, não
faz sentido...e eu...eu...nasci do pecado, é isso? Porque ele não caiu? É isso?
Ele caiu? Foram pra isso que vieram aqui?
Eles se
entreolharam, como se compartilhassem um segredo intimo.
– Ahn, já
dissemos que Deus está...bem...ausente?
Encarei-a. Por
que de tudo que ela havia dito, aquilo soou o mais ridículo?
– Ah, claro! E
meu superpai resolveu “soltar as frangas” por ter o papai “viajando”? Muito
rebelde! Agora já sei de quem puxei esse gênero...
– Você aceitou as
coisas mais rápido que imaginávamos – Eduardo sorriu, como se tivesse tirado a
nota máxima na prova de física. – Mas não foi bem assim...Deus está ausente
desde o término da Segunda Guerra, aquelas guerras foram vergonhosas, não é de
se espantar, não é?
Alice revirou os
olhos para ele, levantou a mão pedindo silencio.
– Os humanos têm
atos terríveis e nobres. Nobres pelo amor, terríveis pelo ódio. De que adiantou
todas aquelas mortes...milhares...tantos inocentes...! Preconceito, poder,
desejo...horrível! – ela fez uma pausa, parecia tentar se lembrar do que estava
falando antes. – Mas Deus continua falando com nós, e também com os humanos, é
claro, ainda age na vida de todos. Mas ninguém sabe onde ele está, ninguém é
mais punido por um pecado no céu. Tem anjos se relacionando com humanos...e já
O procuramos, pensamos que ele talvez esteja na Terra, testando a todos...é
imprevisível.
Pensei naquilo
por um momento. Nunca havia imaginado onde Deus morava. Sei lá, um palácio no
céu? Como um mendigo embaixo de rodovias? Um rico de Londres? Mas imaginava que
ao menos os anjos saberiam onde. Mas
o fato de Miguel (Meu pai!) se aproveitar da ausência do seu próprio pai (Meu
avô?) era muito deplorável. Pelo menos
não é algo que se chega comentando na escola. Ótimo, já sentia vergonha do meu
pai.
Fechei os olhos
tentando absorver todas aquelas informações. Eu me sentia como se estivesse
carregando um caminhão nas costas e tivesse que caminhar até o Canadá, em um
dia.
– Ele está agindo
às escondidas – observou Mateus. Pude ver a dor em suas palavras.
Olhei pela janela, lá fora o sol ainda
nascia, exatamente como estaria às 06:00 horas da manhã. Uma parte do céu
estava escura, ainda de noite. A outra clara e amarelada. Eu havia desejado a
verdade por todos esse anos, e agora, três estranhos entram na minha casa
(parando o tempo!) me dando-a de presente de aniversário. E não se podem
recusar presentes.
Uma lágrima morna
escorre sobre minha face, sequei-a, vergonhosa. Não era isso que eu sempre
quis, durante 16 anos? Eu havia me preparado para a verdade, seja ela qual fosse,
e agora chorava como um bebê? Se aquilo que diziam fosse realmente verdade (E
eu sabia que sim.), estava mais que comprovado que por todo esse tempo, meu
pai, Arcanjo, Miguel, tarado-apaixonado, nunca se importou comigo. Mateus havia
afirmado que ele era um “bom anjo” é, que fosse, mas não era um bom pai. Não se
importava e não se importa comigo. Por que eu deveria me importar com a mínima existência dele?
Fixei meu olhar na única pessoa que tive simpatia ali. Eduardo
brincava com o a borda do forro de mesa, até parecia uma criança perdida que não
sabia o que estava fazendo ali. Sorri, meus olhos ainda transbordavam lágrimas,
e aquela, com certeza, não foi a melhor imagem que ele teve de mim, ao levantar
os olhos, a cabeça um tanto baixa ainda. Ele sorriu e por um momento, me senti
feliz apenas por ele estar ali.
Por: Carol C.
OMG OMG OMG EU QUERO LER O PRÓXIMO CAPÍTULO. QUANDO SAI? ADOREEEI.
ResponderExcluirAin que peer!* eu quero mais u.u Cara você manda muito bem, invejinha! k' zoa/ é uma inveja boa, claro :) parabéns, vc é diva! k'
ResponderExcluirporra vei, voce tem que postar o outro
ResponderExcluirvocê escreve super bem, carol! meu deus, fiquei com vontade de ler mais! será que a cathy vai ter algo com o eduardo? omfg. #ansiosa
ResponderExcluir(@leticiavidal_ aqui haha)
ResponderExcluirvéeeeei adorei *o*
EU PRECISO LER O PRÓXIMO AGORA, srsly.
Será que a cathy vai ter algo com o eduardo? Ou com o Mateus (sim né, por que eu já pensei do futuro deles dois e tal HUAHEUAHEUAH)
Beijos ;*
ta rolando um sentimento ai né hahaha q lindinho, mas nao foi um pouco rapido demais nao? esse cap me lembrou um pouco de supernatural, e todas essas "coincidencias" como numero 11 ficou mt legal, eu tb acredito nisso. adore, poste mais *-*
ResponderExcluirAh, rápido, achou? É que bem...eu não estou escrevendo especificamente um livro. Então eu tenho que ganhar a atenção de quem tá lendo...mas no próximo capítulo as coisas vão ficar, digamos, menos rápido, rs =D
ExcluirCarol, simplismente AMEI!!
ResponderExcluirA historia ta muito boa. E a leitura envolve, faz a gente ficar curiosa.
Esta de parabens eim!!
Só que quero mais, como faz?? Que tal colocar mais eim??
Bjs
To amando essa história Carol!!!!! Sério mesmo *-*
ResponderExcluirTo curiosa tsc tsc tsc
Continua uhu uhu
Que prftttt sua história, to curiosa também ><
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